quarta-feira, 15 de abril de 2009

A história da minha vida (uma parte)

A semana passada a Ana C. lançou um desafio aos seus leitores: que contássemos a nossa história de amor. Eu já tive algumas histórias de amor, mas com o aproximar do dia de hoje lembrei-me de alterar um bocadinho o desafio e decidi contar uma parte da história da minha vida.

Como alguns dos meus leitores já sabem, este não é o meu primeiro blog. Foi aqui que descrevi o que se passou naquela altura. Muitas vezes com a cabeça quente e com o coração apertado pelo medo e pela angustia.

Foi há quatro anos. Fui operada a um quisto no ovário direito.

Tinha 19 anos. Acabada de entrar na faculdade, numa cidade a 334 km de distância, decidi que teria de fazer um check up antes de ir para Mirandela.

Decido ir à minha primeira consulta de ginecologia. Os atrasos na menstruação, as dores horríveis e as hemorragias não me deixavam confortável ao ir para tão longe, pois chegava mesmo a não conseguir levantar-me sozinha da cama.

Decidi ir sozinha. Depois da primeira consulta a médica marca-me uma ecografia, à qual fui novamente sozinha, pois achava que era um procedimento normal. Mal começo o exame o médico pede à assistente que chame a médica para ver algo no ecrã.

A médica entra na sala e começa a fazer uma pressão enorme sobre a minha barriga, causando-me dores insuportáveis, de tal modo que não consegui suster as lágrimas.

“Tem tamanho cirúrgico, chamem a T. (minha mãe). Ela que venha já!”

Não houve um único olhar na minha direcção, um único gesto, uma única pergunta. Diagnosticou-me cancro no ovário. O mundo desabou sobre nós. Era a segunda vez que teria de ser operada.

Tal como contei aqui, não me contentei com o diagnóstico dela, pesquisei na net e exigi aos meus pais ouvir outras opiniões. Tomei a pílula durante quatro meses, ininterruptamente. No dia 2 de Março de 2005, foi-me diagnosticada Endometriose.

Fui operada no dia 15 de Abril de 2005, no hospital Cuf Descobertas em Lisboa. Fui operada usando a técnica da Laparoscopia, uma cirurgia, efectuada através de quatro incisões na barriga. Esta cirurgia permite retirar o quisto e eliminar, através de laser, vaporização de alta frequência ou bisturi eléctrico, todos e quais quer potenciais focos da doença.

Foi-me retirado um quisto de 8cm, não originado pela Endometriose. As únicas marcas que ficam da cirurgia são as pequenas incisões que foram feitas. As dores acalmaram, as cólicas, a forte hemorragia.

Continuo a tomar a pílula por prevenção. Faço a revisão anual e até agora está tudo normal. Passaram-se quatro anos.

O meu objectivo com este post não é fazer-me de coitadinha, é alertar as mulheres, as jovens e as suas famílias para não aceitarem automaticamente a primeira opinião que vos é dada.

Actualmente só falo com a médica que me diagnosticou cancro, quando estritamente necessário e por motivos profissionais. Os meus pais respeitam a minha decisão, mas ainda tentam que eu a “perdoe”, coisa que não sou capaz. Se não me tivesse insurgido quanto aquilo que ela me disse, teria uma cicatriz enorme na barriga e não apenas três furos que mal se notam.

Tenho imensos comentários nos posts linkados. Conheço mulheres que conseguiram engravidar e que hoje têm os seus filhos, porque ao lerem os posts, que eu fiz na altura, pediram segundas opiniões e conseguiram superar a doença.

Sinto-me feliz por poder ajudar os outros. É esse o meu objectivo.

6 comentários:

Ricardo Tavares disse...

Então isto tudo é motivo para te sentires feliz. Toca a sorrir :)

AnaMartelo disse...

Bem, esta leitura fez me bem.
Sabes que nos ultimos 2 anos passei por essa situaçao 3 vezes na familia ? Um dos quais mortal..

E a culpa foi do médico... mas pronto...

Concordo contigo, pedir smp smp 2ºs opinioes ! e 3ºs e 4ºs se assim acharmos necessário !

Agora só tens que sorrir ! Muito ! ;)

Ana C. disse...

Obrigada por partilhares a tua história connosco. Fizeram-te uma ecografia e partiram logo para a certeza de que era cancro? Eram mesmo bons esses médicos.
Infelizmente nem todos são como tu. As pessoas quando estão mais frágeis, entregam-se nas mãos daqueles que supostamente estão ali para cuidar delas.
Fico feliz por tudo ter terminado bem para ti e obrigada pela partilha.
Bjs

Miguel disse...

Isso tudo numa miúda com 19 anos? Admiro-te por teres enfrentado "a besta" da forma como o fizeste. Tenho a certeza que ficarás bem pois revelaste muita coragem!!!

coisalinda disse...

E venceste tudo como uma verdadeira guerreira!!

***** doces :)

Miozothis disse...

Já que não podemos evitar que as doenças apareçam, devemos fazer tudo ao nosso alcance para o rastreio precoce delas e a luta para as vencer...sem nunca desarmar! ;)

Lembro-me dessa altura...um fardo demasiado pesado para qualquer pessoa... :(

*****